quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Paradoxo dos Gêmeos

Sempre quando lembro da relatividade eu me lembro dos relógios moles de Salvador Dali.
Isto, pois o nosso conceito de tempo e espaço são modificados pela relatividade, eles deixam de ser absolutos para dependerem de quem os observa (se em movimento ou parado).

Um dos paradoxos mais famosos da relatividade é o Paradoxo dos Gêmeos.

Normalmente é apontado como insolúvel através da relatividade restrita por alguns, mas um livro (Hewitt, P. G.; Física Conceitual; Bookman) indica uma solução simples que apresentarei aqui através de uma leitura minha. Todas as imagens são do livro e não viso abusar de direitos, apenas faço uma leitura deste capítulo o qual acho muito bom. Embora tenha que fazer uma consideração, mas farei ao final do texto.
Recomendo a todos os professores de física este livro.

...

O Paradoxo (?):

Dois gêmeos idênticos sendo um deles um astronauta que faz uma viagem pela galáxia em alta velocidade enquanto o outro permanece na Terra.
Quando o gêmeo viajante retorna, ele está mais jovem do que o gêmeo que ficou na Terra.
A relatividade prevê que o tempo passará mais vagarosamente em um referencial em movimento.
Onde está o paradoxo?
Se a relatividade prevê que o tempo passará mais vagarosamente em um referencial em movimento, podemos imaginar um referencial onde a nave está parada e quem se move é a Terra em relação à nave. Neste caso, não ocorreria o contrário? Ou seja, o gêmeo astronauta ficaria mais velho (pois ficou no referencial fixo) e o outro mais novo.
Este é o nosso paradoxo.
Dissolvendo o paradoxo:
Imagine a nave parada em relação à Terra e a nave enviando um flash luminoso a cada 6 minutos. O observador da Terra verá os flashes intercalados um do outro a cada 6 minutos.

Referencial Terrestre

Agora imagenemos que a nave se movimente em relação à Terra com uma velocidade de 60% da velocidade da luz (lembrando que a velocidade da luz no vácuo é de 300.000 km/s).

Ao se afastar da Terra a esta velocidade, emitindo um flash a cada 6 minutos, o observador da Terra não verá mais intervalos de 6 minutos em cada flash, mas sim de 12 minutos.

Ao se aproximar da Terra a esta velocidade, emitindo um flash a cada 6 minutos, o observador da Terra não verá mais intervalos de 6 minutos em cada flash, mas sim de 3 minutos.

Agora imaginemos que o astronauta resolva fazer uma viagem de 2 horas. Onde 1 hora é para a ida e a outra para a volta.
Quantos flashes a nave irá emitir neste período?
Fácil, basta pegar o tempo total e dividir pelo tempo de cada flash.
120/6 = 20 flashes
Como os intervalos de ida e volta são iguais teremos 10 flashes na ida e 10 flashes na volta.

Mas o que perceberá nosso observador na Terra, que tem tempos diferentes para os flashes de ida e para os da volta?
10 flashes na ida a um intervalo de 12 minutos por flash totalizam um tempo de ida, marcado por quem está na Terra de 10x12 = 120 minutos ou 2 horas (só na ida).

10 flashes na volta a um intervalo de 3 minutos por flash totalizam um tempo de volta, marcado por quem está na Terra de 10x3 = 30 minutos (só de volta).

Qual será o tempo total da viagem, então?
Para quem estava na nave, o tempo será de 2 horas, já para quem ficou na Terra o tempo será de 2 horas e 30 minutos. Ou seja, quem ficou na Terra, nesta ocasião, terá envelhecido 30 minutos a mais do que quem está na nave.

Em uma viagem mais longa de 8 anos, registrados por quem está na nave e esta com a mesma velocidade de 60% da velocidade da luz, teremos um tempo de viagem registrado por quem fica na Terra de 10 anos.

O tempo efetivamente terá passado 10 anos para quem fica na Terra e também terá passado 8 anos para quem está na nave.
Não há paradoxo nisto, isto é previsto pela Relatividade e comprovado através de experimentos.

Referencial da nave

Nosso problema está na inversão dos papéis de quem observa o flash.
Agora quem emite os flashes é quem fica na Terra e não a nave.
Os flashes são emitidos a intervalos de 6 minutos, como antes.
Na situação (a) temos a nave se afastando da Terra. Nesta situação ela vê um flash a cada 12 minutos.
Na situação (b) temos a nave se aproximando da Terra. Nesta situação ele vê um flash a cada 3 minutos.

A base se mantém como antes. Quem está na nave viajará durante 2 horas, 1 hora de ida e outra de volta.
O diferencial agora está no número de flashes captados pela nave na ida e na volta.

Durante uma viagem de ida a nave capta 60/12 = 5 flashes.
Ou seja, durante a uma hora de viagem de ida registrada pela nave, quem está na Terra, emitindo os flashes, percebe uma viagem de ida de 5x6 = 30 minutos (pois, o intervalo de cada flash na Terra é de 6 minutos e não de 12 minutos).

Durante uma viagem de volta a nave capta 60/3 = 20 flashes.
Ou seja, durante a uma hora de viagem de volta registrada pela nave, quem está na Terra, emitindo os flashes, percebe uma viagem de volta de 20x6 = 120 minutos, ou 2 horas.

Teremos um tempo de viagem total então de 2 horas para quem está na nave e de 2 horas e 30 minutos para quem ficou na Terra.

Conclusão:
Não existe tal paradoxo, a relatividade apresenta a mesma resposta não importa o referencial adotado.

Uma coisa importante a ser notada é que conseguimos entender a relatividade com este simples exemplo, mas exite um problema.
O referencial terrestre sempre deverá ser o que tem o tempo dilatado, independente do referencial.
Mas observando a viagem só de ida, temos resultados diferentes para ambos referenciais.
Este resultado nos leva a crer que existem respostas diferentes conforme o sentido de movimento e isto não ocorre.
Aconselho a leitura dos comentários do blog, pois isto foi observado pelo professor Bezerra, o qual agradeço por esta observação.

6 comentários:

  1. É uma boa tentativa para explicar o paradoxo, entretanto, esse método é falho.
    Para perceber a falha, basta analisar apenas uma parte da explicação. Pensemos apenas na viagem de ida, a nave se afastando da Terra por uma hora, tempo este medido no referencial da nave. Digamos que o problema acaba aí e pronto. Ora, a Teoria da Relatividade prega que no referencial da Terra o tempo foi dilatado, então, deverá ser maior que uma hora, e tal resultado não pode depender do fato do emissor de flashes estar na nave ou na Terra.
    Além do mais, esse método de solução sugere que a dilatação temporal depende do sentido do movimento (afastamento ou aproximação), porém, não é isso que vemos ocorrer nas equações de Lorentz.
    De qualquer forma, Diego, parabéns pelo post e pela tentativa de elucidar o enigma!

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  2. Muito bem observado, Bezerra!
    Não havia me dado por conta deste problema. Acabamos encontrando soluções diferentes para diferentes referenciais e isto não está de acordo com a relatividade!

    Mas, como observaste também, é uma boa tentativa para explicar. Principalmente para alunos do Ensino Médio!

    Obrigado por participar!

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    1. Diego,

      Para evitar divulgação científica equivocada, sugiro reedição da sua postagem com a inclusão da observação, pois é raro quem leia o texto e também os comentários posteriores.
      Fiz a mesma sugestão para o senhor Hewitt, conforme e-mail abaixo.

      To: pghewitt@conceptualphysics.com
      Subject: A suggestion for the next edition

      Mr Hewitt,


      Congratulations on your excellent book!
      I am a Brazilian physicist and appreciate your work.

      However, for the sake of scientific truth, I suggest that a note be included in his book "Conceptual Physics" (ninth edition) Chapter 35, "The Special Theory of Relativity."
      In this chapter the reader is led to believe that the time dilation is something subject to the direction of movement (approach or withdrawal), which is not true. The reader must therefore be warned about this. Or, this attempt to explain a concept by accepting a conceptual error should be abandoned.

      Best regards,


      Bezerra.

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    2. Diego,

      O Paul Hewitt respondeu rápido, irá incluir a sugestão para a 12ª edição do livro. (A resposta dele segue mais abaixo).

      Sds,

      Bezerra.

      Hello Bezerra,
      You're so right! I'll be doing the 12th edition next, and will note your suggestion ... maybe a statement that time dilation isn't connected to direction of motion.
      As you noted in the text, by invoking a sort of Doppler effect, time dilation becomes clearer. If you have other suggestions, please pass them by me.
      Good Energy,
      Paul

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  3. É muito bom quando buscamos melhorar a divulgação científica e quando somos atendidos tão prontamente quanto o Paul Hewitt te respondeu.
    Espero que ele realmente corrija na nova edição.
    Eu colocarei uma nota ao final do texto do blog.
    Obrigado!

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  4. Paradoxo das Gemeas
    Por : Jocax

    - Numa base espacial duas gemeas saem numa nave uma para esquerda e outra para a direita.
    (Com a mesma velocidade absoluta v )

    - Na saida , ambas inicialmente paradas, a nave de ambas aceleram por 1 segundo,
    e a partir dai, prosseguem em velocidade constante.

    - Cada gemea ve sua irma envelhecer mais lentamente, pois ambas
    estao em MRU ( movimento retilínio uniforme ) e portanto, durante o MRU, suas naves podem ser consideradas Referenciais Inerciais.

    - Depois de viajarem por um longo tempo T ( medido da base ) elas sofrem uma nova aceleracao, POR 1 SEGUNDO ( medido da base)
    em sentido contrario para voltarem para a base.

    - levam novamente outro tempo T para percorrer a distancia de volta , e ambas continuam vendo suas irmas envelhecerem mais lentamente.

    - Finalmente depois do tempo T elas sofrem uma desaceleracao por 1 segundo e param na Base.

    - O tempo total de aceleracao foi de 3 segundos (medidos da base )
    mas as gemeas ficaram com seus relogios sendo atrasados uma em relacao aa outra por um periodo T (que pode ser de milhares de anos).

    - Quando elas se encontram cada uma deveria descontar o tempo de aceleracao mas o atraso T eh muito maior que o tempo de aceleracao
    POIS PODE SER VARIAVEL e o tempo de aceleracao eh constante !

    - Portanto temos um paradoxo: As gemeas deveriam ver seus relogios marcando tempos diferentes ! Mas a situacao eh simetrica !

    - Temos um paradoxo !

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